10 outubro, 2008

Vá pra casa.

17/02/2008 - Curitiba - 8:58

Terminado o café da manhã, volto ao meu quarto e coloco uma calça jeans escura e meu velho moletem cinza. A preguiça me impede de fazer algo melhor no meu cabelo a não ser prendê-lo em um rabo, visto meus tênis e saio de casa.
Ando até chegar a praça Gen. Osório, o que não precisa muito, afinal, moro praticamente do lado. Me sento no gélido banco que me dá vista para a entrada do Curitiba Palace Hotel.
A primeira vez que vim a Curitiba, me hospedei ali, vim a essa mesma praça e sentei neste mesmo banco.. Nunca pensei que isto se tornaria minha rotina pela manhã.
As poucas pessoas que passam eu reparo até demais, seus olhos desfocados apontando em diversas direções me fazem imaginar o que estariam pensando. Será que eles reparam em mim?
Me levanto e ando sem pressa pela praça, na minha opnião ninguém nunca inventará um jogo mais divertido do que observar as pessoas.

17/02/2008 - Curitiba - 11:31

"Chega de divagações por hoje, daqui a pouco começa o trabalho e eu ainda estou com essa coisa que eu insisto em chamar de cabelo todo despenteado."
Após voltar para casa, entro em um quente e demorado banho e, de bônus, cantando meus clássicos de chuveiro como Queen - Somebody to Love e The Beatles - Something.
Ao sair do banho, coloco minhas roupas de trabalho (a regra é: tudo preto, sem detalhes.), pego minha bolsa e saio de casa para ir ao shopping.
Vou a pé mesmo, não tenho carro, apenas uma bicicleta para quando quero ir para lugares mais distantes, enfim, chegando ao shopping, me dirijo a praça de alimentação, quando dou por mim, já estou na fila do Subway. "Tantos lugares com comida boa e saudável e eu insisto em comer esses viciantes sanduíches.. Amanhã eu vou comer comida de verdade."
Como meu lanche e vou ao banheiro escovar meus dentes, afinal, vendedoras não podem apresentar um produto com uma alface no dente.

17/02/2008 - Curitiba - 14:04

Mal entrei na loja Bia já veio me contando quem brigou com quem e quem fez o quê ontem a noite, mesmo sabendo que eu já vou ter esquecido metade cinco minutos depois.
Bia - Eu nunca mais quero falar com o João na minha vida.
João é o baterista da Divinyls, ele e Bia sempre foram muito amigos. Ou um pouco mais.
Layla - Aham, nunca mais por um dia, porque?
Bia - Ontem tivemos um ensaio e ele ficava se achando o dono de tudo, aí mais tarde, quando eu fui conversar com ele sobre isso, ele ficou todo nervosinho e começou a brigar e saiu da banda, é isso, agora não existe mais Divinyls.
Layla - Ah não Bia, o som de vocês era tão bom! Dá um tempo e depois vai tentar conversar com ele de novo, vai ver ele só tava irritado com outras coisas e acabou descontando no ensaio e depois em você!
Bia - Não sei e nem quero mais saber, ele que venha falar comigo.
Dizendo isso, esta conversa se encerrou, depois só falamos de coisas banais do dia-a-dia no intervalo de um e outro cliente.

17/02/2008 - Curitiba - 18:18

Layla - Tem alguém pensando em mim.
Bia - Se você começar com superstição agora, não falo mais com você também. Quer ir no Mustang?
Layla - Bah, hoje eu passo.
Bia - Quem perde é você, tchau Lay.
Seguido de algumas risadas, os passos largos de Bia a fazem desaparecer na multidão.
Olhando para o chão, meus pés me levam quase que automaticamente para a Cafeteria, me sento no segundo banco em frente ao balcão, onde Fátima está conferindo o caixa.
Layla - Tudo em ordem?
Ela ergue os olhos rapidamente com uma feição assustada, mas logo sorri, pega um capuccino pequeno que estava a seu lado e coloca a minha frente, feito isso, volta a olhar para o dinheiro com um sorriso aliviado.
Fátima - Você não veio aqui ontem, saiu com Bianca?
Tomo um gole demorado do capuccino antes de responder.
Layla - Ela me arrastou para a casa dela, estava tendo uma festa lá, foi divertido até.
Fátima - Hm.. Algum namorado novo?
Esta é a pergunta que ela provavelmente decorou a resposta, mas mesmo assim insiste em perguntar. Olhando para ela, apoio meu rosto em uma das mãos e sorrio de canto.
Layla - Não, mas eu acho que você já sabia disso certo?
Ela sorri, ainda com os olhos abaixados e pega um envelope em branco que estava no caixa, fixa os olhos nele por um instante e depois me entrega.
Fátima - Chegou aqui pra você, já vou avisando, não adianta me fazer perguntas porque eu não vou responder.
Pego o envelope e o observo. A frente não há nada, o viro e encontro apenas 'Layla.' escrito ao canto superior esquerdo.
Layla - O que é isso?
Fátima - Você é surda? Já disse que não vou responder NADA. Agora vá pra casa menina, leia o que tem aí e me conte amanhã, hoje não consigo pensar em qualquer coisa que não seja esta loja.
Layla - Tá, tá, to indo então, tchau.
E com um aceno distraído ela se despede de mim. "As coisas devem estar pesadas na loja.." Quando este pensamento vem a minha mente, logo outro o encobre: "Que carta estranha é essa?"

17/02/2008 - Curitiba - 20:40

Já cheguei em casa, tirei meus sapatos e estou a não sei quanto tempo neste sofá olhando para a carta. "Porque eu não abro de uma vez? Pode ser só alguém falando que eu esqueci alguma coisa em algum lugar, não deve ser nada demais."
Finalmente abro com cuidado o envelope, de lá, retiro uma folha de papel com coisas escritas a mão, com um certo receio sobre o que estará escrito, eu começo a ler.

"Querida Layla,

Por favor, não jogue esta carta fora, você não sabe quanto foram demoradas as horas que fiquei aqui só pensando em como te escrever isso.
Um dia te vi, menina, só de passagem a minha frente, achei que tinha alucinado. Voltei todos os dias para o mesmo local para ver se te encontraria novamente, até que um dia o destino foi generoso comigo. Você estava a minha frente, e eu não podia evitar de me perguntar quem seria aquela menina, alguém gritou seu nome ao longe e você procurou com os olhos quem seria. Seus olhos.. Layla, como não me perder no labirinto verde de seus olhos? Você por um incrível acaso os direcionou para mim por alguns segundos, os segundos que li como horas e dias. Sou um tolo, não consigo te dizer tudo que pretendo de outro modo, e tinha que te dizer.
Se para minha felicidade você quiser me responder, apenas coloque uma carta embaixo do estofado do terceiro banco frente ao balcão da Cafeteria que receberei.
Obrigado por ter me emprestado um pouco de seu tempo para ler as confissões patéticas de um estranho, obrigado mesmo."

Li, reli e o fiz novamente inúmeras vezes.
Já é tarde, a noite chegou despercebida enquanto me ocupava com palavras de amor. "Talvez tudo isso seja só um sonho.. Talvez daqui a pouco eu acorde e vá na praça para perceber que esta carta nunca existiu." Em minha cama, cada respiração vinha com um pensamento diferente, e o sono veio com um deles.

[na postagem anterior cometi um erro, é shopping Crystal, e não Cristal, me desculpem e obrigada novamente aos que leram e comentaram.]

09 outubro, 2008

Pinceladas.

"..Como explicar aquilo que se deixa tão claro e se faz tão louco? Para Layla só sei que tudo é nada e nada é pouco."

A parte mais difícil de uma história, ao contrário do que se pensa é o começo. Ter que escolher as primeiras palavras entre as tantas que gostaria de colocar me causa uma dúvida irrefreável, e esta, me faz querer apagar e começar tudo de novo.
Meu nome é Layla de Montez, tenho 19 anos e moro sozinha na cidade de Curitiba, mas isso não é o interessante. Moro num apartamento pateticamente pequeno a três quadras de onde trabalho, o shopping Cristal, lá, sirvo de vendedora numa perfumaria chamada Liberthe das duas às seis, graças a esta loja conheci uma de minhas únicas amigas na cidade, Bianca Palardini. Ela tem 23 anos, passados com muito mais sorte do que juízo, mas fazer o quê, deu certo para ela. Criou uma banda de R&B a alguns meses, o nome é Divinyls e eles até que fazem umas músicas bem legais, sempre que possível, ao terminar nosso turno de trabalho, Bia me leva para assistir os ensaios, ela toca guitarra solo e é um dos vocais. Mas isso também não é o interessante.
Exatamente a frente da Liberthe existe uma lanchonete chamada Cafeteria, Fátima, 42 anos, é a dona do lugar e, tirando Bia, a única que consigo ter uma conversa sem censuras por aqui. Gosto de passar as horas sentada frente ao balcão, tomando meu custumeiro capuccino e ficar conversando com aquela mulher, ela sempre tem algo a dizer. E foi numa dessas que as coisas começaram a ficar interessantes.

17/02/2008 - Curitiba - 8:11

"Deveria ganhar um prêmio quem sai da cama a esse horário sem obrigação." Este era o único pensamento que ecoava em minha cabeça enquanto fazia lentamente meu caminho para a cozinha. Peguei meu roupão de micro-fibra, minhas pantufas de porco e fui arrastando os pés, cada vez mais querendo parar. "Porque eu sou tão incapacitada de acordar ao menos uma hora mais tarde? Eu devia fazer o turno da manhã naquela loja.."
Chegando a cozinha corto um pedaço de pão e passo uma quantidade generosa de geléia de morango. "Fico a manhã inteira me ocupando com manias completamente inúteis, conclusão, além de ficar acordada não consigo nem fazer algo produtivo! Da próxima vez levanto só para fazer um chá ou tomar um suco de maracujá pra ver se volto a dormir."
Pensando isso, caminho até a sala e me jogo no sofá, ainda comendo meu pão. Na janela, as ruas calmas iluminadas pelo sol nascente atraem minha atenção e, com um longo suspiro, digo para mim mesma:
- Confirmado, isto é apenas mais um dia que começou..

[não querendo sobrecarregar a leitura apenas na primeira postagem, me retiro aqui. obrigada se alguém chegou a ler, até amanhã.]

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